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domingo, fevereiro 08, 2004
Há quase dez a Ordem dos Arquitectos [OA] assistiu à multiplicação dos cursos de arquitectura em Portugal em instituições públicas e privadas. Assistiu inclusive, à aprovação pelo Ministério da Educação, de cursos com metade das horas de projecto requeridas pela directiva comunitária. Incapaz de pressionar o governo, a OA decidiu pressionar os arquitectos recém-licenciados.

Há quase dez anos a OA começou a discutir os estágios profissionais. A questão do acesso ao título profissional colocava-se agora no âmbito da livre circulação de pessoas e bens no espaço europeu. Os colegas europeus da OA questionavam a forma como a OA avaliava e acreditava os cursos de arquitectura em Portugal. A OA teve assim que encontrar uma forma de passar uma imagem de rigor. Incapaz de convencer os colegas europeus, a OA decidiu pressionar os arquitectos recém-licenciados.

Há quase dez anos os estágios profissionais foram duramente questionados pela total inadequação aos objectivos postos. Os estágios não garantem por si só a preparação do arquitecto de acordo com a directiva comunitária. A directiva foca essencialmente no ensino da arquitectura. Uma monitorização dos cursos de arquitectura para acreditação seria sem dúvida mais adequada. Incapaz de pressionar as escolas, a OA decidiu pressionar os arquitectos recém-licenciados.

Há quase dez anos a OA começou a ser alertada para os efeitos potencialmente perniciosos dos estágios profissionais. A longa experiência dos estágios curriculares da Faculdade do Porto [FAUP] – então o único curso com estágio – demonstrava que até com poucos estagiários por ano, era frequente estes não serem remunerados. Teríamos assim no mercado de trabalho centenas de arquitectos recém-licenciados, juntamente com outros tantos finalistas, em busca obrigatória de um emprego para acederem, se fosse aprovado, ao direito de exercer a profissão para a qual estudaram seis anos. Obviamente, tal só faria sentido se houvesse a remuneração obrigatória. Incapaz de pressionar os arquitectos, a OA decidiu pressionar os arquitectos recém-licenciados.

Há quase dez anos a OA não percebe que o mundo dos arquitectos está a mudar. O aumento do número de arquitectos no país não vai gerar uma especialização da actividade do arquitecto como parecem sugerir certos documentos da OA. O aumento do número de arquitectos vai fazer sobressair o grupo de arquitectos por contra de outrem em alternativa ao tradicional arquitecto profissional liberal. A OA tem que perceber que, mais tarde ou mais cedo, também vai ter de começar a regular as relações laborais entre arquitectos.

continua

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