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quarta-feira, fevereiro 02, 2005
A abstenção é apenas uma ausência, uma apatia. Os brancos e os nulos são condenados pelo sistema a uma inexistência equivalente à abstenção. São votos inutilizados.

O voto inútil é um voto utilizado.Só é inútil porque não é útil a alguém que nada fez para o merecer. Mas é um voto com voz. Conta, passa mensagens e indica direcções. Mantém viva uma esperança de que algo pode vir a mudar. Principalmente, mantém os grandes em sentido e atentos.

O apelo ao voto útil é uma espécie de terrorismo eleitoral. Utiliza o medo de uma mudança ou de uma continuidade, o medo de um papão para angariar votos. Mesmo depois de 10 anos de Cavaco não cedi à tentação do voto útil. Bastou-me imaginar que os portugueses [e as portuguesas], levados pelo pânico, votavam em massa no Engenheiro e ele ganhava com maioria absoluta sem saber bem como. O meu voto inútil, gosto de pensar, evitou passar a ditadura da maioria da direita para a esquerda. O meu voto inútil foi finalmente útil.

Votei inutilmente toda a minha vida. No círculo onde votava, graças ao famoso método de Hondt, era virtualmente impossível eleger alguém fora dos quatro “grandes” partidos. Mesmo em Lisboa isso parecia uma utopia. Mas entre votar em quem já lá estava sem os apreciar e votar noutro [quase qualquer outro], votei sempre outro.

O meu voto inútil, com o de tantos outros, foi sempre um voto positivo. Não cedeu ao medo e manteve viva uma esperança. Há poucos anos uma terceira força de esquerda chegou ao parlamento, e o meu voto utilizado apelidado de inútil foi finalmente vingado.

No círculo onde voto agora, as chances de eleger um deputado fora dos dois centrais são mínimas, mas eu não cedo. Votar inultimente é um dever.

Nota: digo terceira força de esquerda mais por convenção do que por conteúdo. Mais correcto seria segunda ou, talvez, até a primeira.

[Se não fosse pelo apoio inútil de milhares de adeptos, o campeonato nacional da 1a divisão decidia-se em quatro ou cinco jogos.
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