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segunda-feira, novembro 01, 2004
Onde se prova que para se ser Observador não basta assim se chamar.
O observador: Para quê tudo de novo: "com a vitória de Kerry, a politica externa norte-americana pouco se vai alterar."
Esta é uma das mais batidas razões a que recorrem os apoiantes de quem quer que seja que está no poder em todos os países. No fundo nada mudará, a nível económico não há diferenças significativas - a economia é global, a nível internacional não pode haver cortes bruscos. A lengalenga é de tal maneira repetida que até parece sugerir que o que seria bom seria um regime de partido único. Mas também os cépticos que não apoiavam partidos elegíveis o diziam e repetiam.

A administração de George Bush se veio provar alguma coisa, foi que, de facto, há diferenças e diferenças profundas. Que quando acontece algo de extra-ordinário como os ataques de Setembro 2001, importa bastante quem está à frente de um país e qual a sua formação. Nas minhas piores expectativas nunca me teria passado pela cabeça que um presidente pudesse mudar ou atacar tantas coisas fundamentais. Não imagino que na mesma situação um presidente democrata (ou muitos republicanos) tivesse cometido actos como: o ataque aos direitos dos cidadãos com o PATRIOT ACT, o abuso dos direitos humanos em Guantanamo Bay, a proclamação da Guerra ao Terrorismo, na sombra da qual outros regimes aproveitaram para legitimar as suas atrocidades, e a ignóbil Guerra do Iraque apoiada na teoria da Guerra Preventiva.
O observador: Para quê tudo de novo: "Kerry(...) vai ter a tendência para regressar a um certo unilateralismo. Teremos então (...) uma certa confusão e desnorte na diplomacia da Administração Democrata. Não foram aquelas políticas que prometeram aos eleitores..."
Não sei se Kerry vai ou não ser unilateralista, dificilmente será mais, ou mesmo tanto, com Bush. O que aqui se aponta é o fantasma da instabilidade, depois de desvalorizar a oposição com o "vai ficar tudo na mesma" vem sempre o "ainda por cima não vão saber o que fazer". A experiência é um valor que deve ser respeitado, mas não deve ser utilizado para a eternalização do poder. É importante saber ir à procura da experiência. George Bush não tinha essa experiência foi à procura dela no conselheiros de seu pai (não é uma critica irónica, é um facto até de louvar). O fantasma da instabilidade não passa de isso mesmo, um fantasma.

Quando George Bush foi eleito não foram também estas políticas que prometeu aos eleitores. De facto exactamente o oposto, criticou violentamente Clinton por policiar o mundo e se ter envolvido em diversos conflitos. Mas enfim, esse comentário em relação a uma eventual mudança de política de uma potencial administração democrata, é uma daquelas farpas em segunda ou terceira derivada que nem vale a pena comentar.

A respeito da experiência, Madalene Albright explicava há poucos dias que enquanto Secretária de Estado (negócios estrangeiros) comunicou com muitos ex-Secretários de Estado porque, segundo ela, não há assim tantas pessoas que tenham tido essa experiência e toda a ajuda é pouca... a ela, no entanto, nunca lhe telefonaram.
O observador: Para quê tudo de novo: "A guerra preventiva é uma arma, mas (como a sua Administração sempre o disse) só para ser utilizada em última análise, o que não fará tão cedo."
A Guerra Preventiva é uma estratégia que através de propaganda tenta justificar um ataque unilateral não provocado. Não deve ser utilizado em nenhuma instância. É a antítese da Guerra-fria e da justificação para a manutenção de armas nuclear como efeito de dissuasão. Bush, como está provado, não a utilizou em última instância. Não esgotou todos os caminhos para evitar uma guerra que não teria acontecido se ele não tivesse atacado. E não é verdade que todos pensassem que Saddam tinha WMD. Muitos analistas de segurança (não comentadores) alertaram para a improbabilidade mas foram simplesmente ignorados.

Bush conseguiu em 3 anos promover duas guerras, uma totalmente injustificada. Nada nos garante que passe 4 anos sem promover mais nenhuma.

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