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domingo, março 30, 2008
Arrastão | Dar o corpo ao manifesto:
Não usar uma mini-saia no trabalho pode significar menos dinheiro no fim do mês. Esta é pelo menos a ideia da clínica espanhola San Rafael, em Cádis, que retirou a dez recepcionistas e enfermeiras o seu prémio de produtividade, por não usarem a saia curta que faz parte do uniforme obrigatório. As mulheres recusaram o traje estipulado, que além de deixar as pernas descobertas obriga ao uso de um avental justo e pouco prático. Assim, no fim do mês receberam menos 30 euros, o preço por andarem com os tradicionais fatos de saúde.
citação original: Sem comentários


Seja por pura tentativa de provocação, seja por pura idiotice, choca-me o teor de alguns comentários ao artigo ligado pelo arrastão – além de estar indignado com esta notícia. A provocação nivela a discussão por baixo, a idiotice é resultado de anos de nivelamento por baixo da discussão.

A utilização de uniformes em empresas tem as suas razões, maioritariamente de ordem prática (seja pela necessidade ou desejo de reconhecimento, seja pela adequação à actividade), mas deve sempre respeitar o indivíduo nos seus direitos essenciais de não ser descriminado com base em raça, género, religião, etc. Ou seja, um uniforme deve ser flexível – e isto não é um paradoxo.
Além disso um uniforme tem que ser esteticamente agradável e, apesar de esta característica ter um factor subjectivo, não deve ser dependente de quem o usa. Ou seja, o uniforme deve ser esteticamente agradável tanto vestido por um homem com barriga, como vestido por um homem sem ela. Mais uma vez o uniforme terá de ser flexível.
Estes são parâmetros que entram no desenho (projecto) de qualquer uniforme. E um uniforme, ou uma estratégia de marca, que não é adaptável funcionalmente, esteticamente ou culturalmente falha redondamente.

É uma banalidade mas aqui fica: uma empresa (privada) de serviços não tem como objectivo o lucro, tem como objectivo prestar serviços aos seus clientes. Privada ou não, para manter o serviço aos seus clientes, e valorizar a energia despendida, tem que ser economicamente viável – o que é bastante diferente de ter como objectivo o lucro.
Na sua essência uma empresa de serviços é diferente de uma empresa de produtos. Sendo central a prestação do serviço, o serviço é avaliado com adjectivos como eficaz, eficiente, correcto, simpático, informado, e não com atraente, excitante, musculoso, colorido.

A avaliação da prestação dos funcionários de uma empresa é uma coisa bastante séria e não pode ser banalizada. O mérito é central nessa avaliação, e é o que interessa à empresa. As características de cada indivíduo influenciam enormemente a avaliação. Tipicamente, um indivíduo mais articulado – ou mais atraente ou simpático – terá uma melhor avaliação que um mais engasgado, mesmo que isso não influencie a sua prestação. O bom gestor descortinará por detrás destas características o mérito da prestação individual. Uma má avaliação (ou série) é razão para penalizações e, no limite, despedimento. Por isso é importante que os critérios sejam claros e justos.
É uma estratégia conhecida a utilização de avaliações negativas (baseadas em critérios injustos ou aplicados parcialmente) para despedimento sumário de funcionários indesejáveis.

Para terminar, o uniforme tem uma outra missão também importante, que não a adequação às tarefas ou o reconhecimento da empresa – a uniformização. Tal como um uniforme flexível não é um paradoxo, a uniformização através do uniforme não é uma redundância. O uniforme é utilizado para dissimular algumas características individuais irrelevantes ao serviço prestado – tais como a classe económica ou social de um indivíduo; ou até gostos particulares ou atributos físicos.

Neste caso, não imagino como a saia curta poderá ter uma utilidade prática na actividade exercida; ou como possa ser essencial no reconhecimento do pessoal da organização ou na imagem que se quer transmitir acerca do serviço; e, obviamente, contradiz a missão de dissimulação de factores irrelevantes.

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terça-feira, fevereiro 26, 2008
MVOA | Opinião - José Bruschy: É no mínimo engraçado, ou melhor, revelador que, para a comunicação social e pelos vistos para o seu público, o importante, seja só e principalmente a questão da troca de favores

Confesso que, quando recebi a newsletter da lista C com as primeiras linhas desta opinião, não resisti a ir procurar esta citação que de uma maneira ou de outra teria que lá estar. E, não desiludindo, a forma da afirmação ultrapassa as expectativas.

É no mínimo risível, ou melhor, ridículo que um arquitecto considere que o importante na estória das assinaturas de Sócrates não seja principalmente a troca de favores. Esse é, de facto, o único aspecto importante da estória e o facto de o engenheiro continuar como primeiro-ministro é revelador do estado dos políticos em Portugal. Enquanto engenheiro, quanto sei, o primeiro-ministro actuou dentro da legalidade. Foi enquanto cidadão que cometeu as alegadas ilegalidades.

É no mínimo lamentoso, ou melhor, lamentável que o arquitecto utilize esta triste estória para desenrolar a velha ladainha dos arquitectos contra o resto do mundo da construção. A saber: «A qualidade da arquitectura destes projectos é sempre medíocre, ou muito má», sugerindo garantia de qualidade do serviço de um arquitecto e, soberba, excluindo a possibilidade de um dos projectos dos ‘outros’ ser bom ou mesmo sofrível; os projectos são feitos «à “pressa” com o objectivo de obter aprovações rápidas e remunerações atempadas e compensadoras», ao contrário do que se passa nos escritórios de muitos arquitectos (?); «muitas vezes, são projectos da autoria de engºs. ou engº técnicos», coisa absolutamente legal diga-se de passagem; «De facto arquitectura sem arquitectos é de terceiro mundo», países como a Holanda ou a Dinamarca, cujo atraso cultural e económico é legendário; «tão importante como a má qualidade dos projectos […], é a distorção no mercado da encomenda de projectos», enquanto os arquitectos não fazem concorrência desleal uns aos outros, as universidades ocupam-se somente de investigação e a ordem não serve de bandeja milhares de projectistas a custo zero; «De facto, hoje em dia, para a maioria dos projectos correntes, que entram nas Câmaras, e que são cerca de 90% de todos os projectos», de facto – e uso aqui o ‘de facto’ apropriadamente – depois de muito procurar, até hoje, ainda não descobri um estudo (nem fiável, nem sequer questionável) que indicasse essa percentagem mítica dos 90% repetida ad eternum para demonstrar a injustiça em que os arquitectos vivemos e para prometer o maná infindável que nos espera quando por fim o 7373, número bestial, for derrotado. Devo confessar, no entanto, que o negativo destas afirmações dava um excelente programa eleitoral, infelizmente ausente de todas as candidaturas.

É no mínimo infeliz, e até triste, que o arquitecto se esqueça das inúmeras estórias semelhantes à das assinaturas de Sócrates em que os protagonistas são arquitectos camarários e os seus amigos.

Nota:
Este texto não é contra a candidatura de Manuel Vicente, nem contra o citado arquitecto. A opinião deste arquitecto é como muitas que ouvi de colegas e amigos em conversas por aí. Reflecte o estado dos arquitectos.

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sábado, setembro 15, 2007
Volto aqui ao tema dos posts anteriores.
«Aparte de concordar com a questão de princípio evocada: a não perpetuação nos cargos e órgão directivos. (...)»

in Eleições na Ordem dos Arquitectos VII,
comentário de Rui Pereira (n.o 1)

O qual comentei
«mas meus amigos, não são eles que se perpetuam no poder, somos nós, os eleitores, que os perpetuamos... e os que perpetuarmos serão assim os perpetuados que merecemos... perpetuamente.»

in Eleições na Ordem dos Arquitectos VII,
comentário de Aquiq (n.o 4)

E acrescento às razões dadas abaixo que o facto de haver limite de mandatos puderá até desencorajar projectos que visam reformas profundas na ordem que não se puderão desenvolver num par de mandatos.

Os que passaram pelo associativismo estudantil sabem bem a dificuldade (1) de envolver um grupo suficiente de gente empenhada; (2) em concordar, criar e implementar uma agenda consistente e relevante para o curso; e, finalmente, quando se venceram as eleições anuais necessárias, (3) no momento em que tudo parece confluir para uma mudança significativa, começa-se o estágio, vai-se de Erasmus, acaba-se o curso. E, por muito que isso tenha sido previsto, a maior parte das vezes existem rupturas cíclicas no seu desempenho.

No futebol, as selecções subs são por definição inexperientes e os seus sucessos e insucessos variam natural e imprevisivelmente devido a isso mesmo.

Se eu concordo que uma das mais importantes tarefas dos lideres associativos é empreender a constante renovação e garantir a continuidade dos projectos que iniciam mesmo que (e talvez preferivelmente) sem eles próprios, também me parece contraproducente impor esta renovação por decreto, particularmente estendendo-a a todos os cargos directivos.

É um pouco como limitar o número de vezes que um jogador pode jogar pela selecção principal e, para mais, incluir os suplentes que não jogaram. Puderá haver um jogador estrela que venha a ser convocado para lá do seu prazo de validade, mas para isso é que há um seleccionador.

Voltando à ordem, temos a vantagem de que o seleccionador somos nós.

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quarta-feira, agosto 22, 2007
Randomblog | Eleições na Ordem dos Arquitectos I: "(...)Concordo com o ponto dos Estatutos da OA que limita a dois mandatos (seis anos) o tempo de participação no mesmo órgão directivo da OA. (...)"
Já tenho mais dificuldade em concordar com isto. Num regime democrático parece-me desnecessário limitar o número de mandatos. Se alguém se chegou à frente e tem capacidade para e qualidade no desempenho da sua função porquê limitar o benefício que essa pessoa traz ao país ou à classe? Se não tem a capacidade e/ou a qualidade, então puderá fazer maravilhas a respeito do alheamento que nos afecta a todos.
Expondo a minha ignorância dos estatutos, surpreendeu-me que este limite dos mandatos se estende a toda(s) a(s) direcção(ões)! Parece-me uma ideia ridícula, que combinada com referido alheamento, pode provocar quebras na continuidade das (limitadas) políticas em curso. Não faz sentido excluir toda uma direcção (segundo algumas interpretações as três direcções) com anos de experiência. É um desperdício.

Qualquer dia começamos também com as incompatibilidades - os cônjuges, os filhos, os sócios e, talvez, os ex-cônjuges e os ex-sócios não poderão fazer parte da direcção. Não vá o diabo tecê-las e gerarem-se famílias totalitárias que dominem a política da ordem para toda a eternidade.

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domingo, agosto 19, 2007
Randomblog | Eleições na Ordem dos Arquitectos ii:"...Continuaremos no estafado modelo das exposições, comissariados, publicações e convites aos famosos?..."
Concordo com o regressado RandomBlog, a Ordem dos Arquitectos tem que servir para algo mais do que para organizar palestras, congressos e conferências. Não nos podemos auto-proclamar entidade auto-reguladora e reduzir a nossa actividade a pouco mais do que Associação Cultural e Recreativa dos Arquitectos Portugueses.

ACRAP is acrap is a crap

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quinta-feira, agosto 09, 2007

Prazer Inculto | O problema da rutemarlene:

De todo o lado me chegam convites para abrilhantar feiras do livro, colóquios,etc, etc.
É lisongeiro, dirão.
Não.
...Pedem-me, como aliás pedem a toda a gente, que nos metamos no carro, façamos 100, 200, 300 quilómetros para lhes ir abrilhantar a festa, de borla. Que interrompamos o nosso trabalho, as nossas férias, o nosso tempo com a família e partamos para os locais mais afastados sem receber nada em troca. Tipo missão.
Quando se lhes pergunta quanto é que estão a pensar pagar-nos pelo nosso esforço, respondem-nos, friamente, "que não estava previsto". ...Que o dinheiro foi todo para os cantores, pimbas ou não, para pagar às gráficas ou para o salário da pessoa que organiza.
Num país sem ministério da cultura, em que se ganha misérias com a venda dos livros basta fazer contas a uma deslocação dessas: 10% de um livro que custe 15 euros=1,5 euros x 20 livros- que é o que se assina numa coisa dessas, com sorte - é igual a 30 euros antes de impostos. Ou seja, uma deslocação de centenas de quilómetros, mais gasolina e portagens, mais um dia de trabalho perdido por 30 euros? É este o valor que nós temos para uma vereação de cultura, ou para um organizador de feira de livro?
O que acontece é que os melhores escritores ficam em casa. Naturalmente. Sobram os que têm vergonha de dizer não e os menos conhecidos, que ingenuamente pensam que esta participação lhes "irá abrir portas". Não vai....Enquanto deixarmos que nos tratem como lixo não se abrirá coisa nenhuma. Nós não somos lixo.
E quem paga 10.000 euros ou mais a um cantor pimba também pode arranjar 200 euros para pagar para essa coisa banal que é a Cultura.
Haja vergonha!

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terça-feira, fevereiro 21, 2006

A Quinta Coluna | Momento intelectualmente desonesto:

«Many nations of the world do not get to hear the truth about Islam but only what the enemies of Islam say. There should be no doubt that the teachings of Islam should be heard by all (...) . Undoubtedly, if the truths about Islam are taught correctly, most people will accept Islam. The Islamic ulema shoulder the heavy responsibility of presenting true Islam.

Iran's President Mahmoud Ahmadinejad

»
Ao ler isto, "Sem dúvida, se as verdades acerca do Islão forem ensinadas correctamente, a maior parte das pessoas aceitariam o Islão" lembrei-me daqueloutro presidente que defende que "duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar".
Parece que depois da sintonia diplomática entre o Irão e Portugal, teremos também sintonia presidencial.

A Quinta Coluna | Parabéns Pá:

«Finalmente, gostava de dar os parabéns ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal pelos rasgados elogios que o Embaixador dos Persas lhe dirigiu, a propósito da sua extraordinária posição respeitante a esta coisa dos Cartoons. Disse o Embaixador dos Persas:
«o ministro Freitas do Amaral teve uma posição que deve ser destacada. Disse coisas muito positivas e muito lógicas». Que belo elogio recebido desse país exemplar que é o Irão. Parabéns, pá!»

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segunda-feira, fevereiro 13, 2006
Uma no cravo
e
outra na ferradura
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CAOS | Criatividade Policial:

«A originalidade destes funcionários entusiasma-me. Submetendo-se ao ridículo, enveredam por soluções inovadoras e inesperadas para resolver problemas impostos por regulamentos idiotas. Fossem os regulamentos positivos e inspiradores e não haveria limites ao que estes funcionários poderiam alcançar.»

ORDEM | Soluções Integracionistas:


«Os funcionários policiais ter-se-ão divertido com a inaptidão dos políticos, apesar de lamentarem a perda de oportunidade se criar mais um sinal de trânsito.»

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segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Steinbeck no timshel | Atiram a qualquer coisa que se mova ou pareça poder fazê-lo; se os acidentes fossem limitados à sua própria espécie, não haveria problema:

«- Pensou que era um veado?
- Pensei, sim, Senhor.
- Mas não tinha a certeza de ser um veado.
- Bem, não, Senhor, suponho que não.»
Vale a pena ler o extracto todo.

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terça-feira, fevereiro 07, 2006

Complexidade e Contradição: Não há Direito:

[dois arquitectos colaboram regularmente. o arquitecto B paga consideravelmente menos aos estagiários que o arquitecto A]
«Vai daí, chama o arquitecto A os seus estagiários ao gabinete, de manhanzinha, e anuncia-lhes que, devido a uma revisão da política salarial do atelier (ou seja, aproveitando o pretexto da cooperação estratégica), verão a sua remuneração reduzida para 3/5 do que até aí gozavam.»
São assim os arquitectos em Portugal. Grandes e pequenos de tamanho, grandes e pequenos de nome, na sua maior parte os arquitectos portugueses são minúsculos.

Dos minúsculos, os que chateiam mais são os grandes, e de entre estes os grandes de nome. Para além da avareza (de que "sofrem" também os grandes de tamanho), os grandes de nome chateiam por ter a responsibilidade de ser a cara mais visível da classe. Aqueles que deveriam dar o exemplo. Aqueles que deveriam mostrar que se pode fazer arquitectura reconhecida e ser economicamente viável - porque se pode, e porque eles o fazem -, sem explorar os próprios colegas.

E quando esses arquitectos morrerem, perguntar-se-á, Que fizeram pela arquitectura portuguesa, e virá a lista de projectos melhores ou piores, de publicações, de cargos, a carreira académica... Não se perguntará, Que fizeram pelos arquitectos portugueses, porque a resposta seria um rotundo nada!

Li recentemente este texto, e lembrei-me de tantos arquitectos da nossa praça, Qualquer dia dá um post, pensei.

Gonçalo M. Tavares, O Senhor Kraus, p.10:

«Quando o perigo se aproxima, o comandante enfrenta-o de tronco direito e cabeça levantada, pensou o Chefe. Mas logo se dobrou para apanhar uma moedinha que lhe caíra do bolso. De novo pôs-se todo direito, direitinho mesmo, hirto, de cabeça levantada, como se não existisse no mundo mais nenhuma moeda no chão. Completamente vertical, eis o Homem.»
O resto do livro também vale muito a pena.

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quarta-feira, janeiro 25, 2006

Complexidade e Contradição É que qualquer dia já nem do PREC a malta pode dizer mal :

«(...)já começa a cheirar a esturro o facto de todas as, vá lá, imperfeições que são apontadas à herança da abrilada serem devolvidas à procedência através da invocação da memória do Estado Novo, como se numa revolução só existisse o antes.»

Numa revolução não existe de facto somente o antes. E, no entanto, só se ouve falar do depois. Já que trazes o PREC à baila, com “receio” de não o poder vir a criticar, é curioso que não o faças, que não o culpes dos «actuais vícios da nossa sociedade». O PREC raramente é a razão de todas as nossas desgraças, a revolução essa sim!
Aliás o PREC terminou com o golpe de 25 de Novembro 1975 e nunca ouvi ninguém culpar o 25 de Novembro de ser a origem do nepotismo português.

Mas voltando ao depois, a bem ou a mal, da revolução de 25 de Abril saiu um regime democrático que dura há mais de 30 anos. Neste período fizeram-se seis revisões constitucionais e alternaram no poder, essencialmente, dois partidos centristas. Continuar a culpar uma revolução ocorrida há mais de 30 anos é desresponsabilizar os partidos que partilharam o poder. Os «vícios da nossa sociedade» combatem-se com acções, e quem tem o poder terá que ter a coragem de as tomar.

O problema, para tua, minha, nossa desgraça, é que os «actuais vícios da nossa sociedade» não se geraram espontaneamente com a revolução de 25 de Abril, nem com a de 25 de Novembro, nem com a de 28 de Maio, nem mesmo com a de 5 de Outubro ou a de 1 de Dezembro.

Ou seja, sempre que atribuíres culpas ao momento em que se muda um regime ouvirás falar do regime que o precedeu. O desafio seria escrever um comentário aos «actuais vícios da nossa sociedade» sem alusões ao 25 de Abril, revoluções e essas coisas.
Vá lá vais ver que descobrirás razões mais válidas e, talvez, conseguirás apreciar esse momento, sem as fantasias idílicas que nos atribuis, por aquilo que ele realmente significou.

Vá lá, vais ver que não custa nada.

Complexidade e Contradição É que qualquer dia já nem do PREC a malta pode dizer mal :

Esforcem-se por tentar comentar este post sem alusões a Salazar, Estados Novos, ditaduras e essas coisas. Vá lá, vão ver que não custa nada.

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quarta-feira, janeiro 25, 2006
O Complexidade e Contradição ripostou e aqui se comenta a riposta

Complexidade e Contradição | Entendam como entenderem:

«Acho que me expremi mal. Se eu aceito que a esquerda reconheça na direita um «ódio» qualquer ao 25 de Abril, [...]»

Não creio que te tenhas exprimido mal mas a tua frase seguinte é clara na vacuidade de sentido. Ao aceitares que a esquerda reconheça na direita um ódio ao 25 de Abril (sem vontade ou coragem para realmente o admitir) aparentas concordar comigo para me levar a concordar contigo...

Complexidade e Contradição | Entendam como entenderem:

«[...]terás de concordar que a reacção imediata da esquerda ao lembrar o Estado Novo sempre que se fala do 25 de Abril, não é mais correcta.»

... e, no entanto, discordo. Eu distingo duas coisas que tu talvez não concordes em separar (mas remeto-te uma vez mais para o exemplo do 5 de Outubro e da I República). A revolução e o regime que daí emergiu (ou tentou emergir) são duas coisas diferentes. Uma significa o fim do Estado Novo, a outra o início de um regime que evoluiu, entre várias atribulações e relativamente depressa, para um regime democrático. Daí não ser estranho que ao falar do 25 de Abril se fale do Estado Novo.

Complexidade e Contradição | Entendam como entenderem:

«Eu odeio o Estado Novo, mas isso não me impede de considerar que com "processo revolucionário" nasceram muitos dos actuais vícios da nossa sociedade.»

Basta ler autores de todas as épocas para perceber que a distribuição de favores não começou com o regime democrático, nem com o processo revolucionário, nem muito menos com a revolução de 25 de Abril.

Antero de Quental | Causas Da Decadência Dos Povos Peninsulares Nos Últimos Três Séculos.:

«Todas essas misérias íntimas reflectem-se fielmente na literatura. O que eram no século XVII a moral pública, as intrigas políticas, o nepotismo cortesão, o roubo audaz ou sub-reptício da riqueza pública, vê-se (e com todo o relevo duma pena sarcástica e inexorável) na Arte de Furtar do Padre António Vieira.»

Afonso Costa:

«...o que tem sido a administração da monarquia portuguesa e dos seus governos desde que é rei o actual chefe do Estado; saibamos em que condições de «descalabro», de «favoritismo» e de «legalidade» se tem feito essa administração»

O mesmo acontece com a incompetência quer nas instituições públicas quer nas privadas. O mesmo acontece com o atraso.

Quanto à subsidio-dependência que tanto te preocupa, aponta-me um país que não a tenha, e naqueles que a têm a revolução responsável por tal "crime". É que em relação aos subsídios passa-se o que atribuis ao resto:

Complexidade e Contradição | Entendam como entenderem:

«Enfim, o resto são diferentes opiniões políticas.»

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quarta-feira, janeiro 25, 2006
Aqui estão alguns comentários que fiz no Complexidade e Contradição

Complexidade e Contradição | Entendam como entenderem:

(A revolução de Abril é) «outro evento meramente histórico na minha memória [...]que tem impedido Portugal de se aproximar dos níveis europeus de qualidade de vida»


Não percebo este ódio incondicional (especialmente dos jovens) da direita ao 25 de Abril, que é considerado fonte de todos os problemas de Portugal - como se nenhum outro país tivesse problemas semelhantes.

Apesar de ser para mim um evento meramente histórico, ainda valorizo muito a revolução de 1910, que não resultou num regime exemplar e que finalmente resultou no Estado Novo.

Complexidade e Contradição | Entendam como entenderem:

«O meu único interesse nesta eleição é que ela consiga [...] contribuir para o fim deste Estado filho de uma revolução popular, de subsídios e cunhas, de incompetência e atraso.»


Como explicar-te que tudo isto já existia antes do 25 de Abril? Como explicar-te que as cunhas não são uma invenção do 25 de Abril? Como explicar-te que não são um exclusivo da «tralha socialista»? Preciso lembrar-te que desde o 25 de Abril o PS e o PSD partilharam equilibradamente o poder?

Culpa os políticos que partilharam o poder, culpa a incompetência de tantos, culpa a falta de incitativa de muitos, e talvez até concorde contigo em muitos casos.

Mas não culpes uma revolução que acabou com 40 anos de opressão, tortura e perseguição, que acabou com um regime introvertido, conservador, complexado, e voltado eternamente para o passado.

Complexidade e Contradição | Entendam como entenderem:

«Quero um país mais europeu, liberal, descomplexado, voltado definitivamente para o futuro.»

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quinta-feira, novembro 03, 2005

RandomBlog | O dia mais longo de Dias Loureiro | Re-mataria:

[...] «Por volta das três da tarde, actuámos mesmo e as coisas compuseram-se», é como Dias Loureiro resume os confrontos entre manifestantes e polícia. No final, um rapaz ficou paraplégico, mas «as coisas podiam ter sido mais graves».

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terça-feira, abril 19, 2005

Aqui na coluna do lado
Novas recomendadas:
Arquitectos à Bolonhesa - importante
Um “bom” exemplo de Responsabilidade Social Empresarial - impressionante

Nova comentada:
60.000.000 Euros mais ou menos, isso não interessa,

Nova continuada:
ArquiChatos - só é chato porque não escreve mais.

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quinta-feira, março 31, 2005
O aqui foi ali
Nota prévia: os links para o The Hunger Site são redirigidos para a página inicial, procure na side bar a secção referida.

Há muito tempo que não via um link para o The Hunger Site

Sempre tive sentimentos contraditórios a respeito deste site e há uns anos descobri algumas críticas que me desiludiram um pouco. Este artigo é interessante em muitos aspectos. [Entre outros critica um certo tipo de ajuda que destrói o pouco comércio local existente e torna as populações dependentes da ajuda estrangeira. Desde então vejo com pavor as ondas de solidariedade originadas por desastres com o Tsunami.]

Hoje fui investigar um pouco mais e a verdade é que o que descobri não me entusiasmou. As críticas ali feitas mantêm-se e confirmam-se:
* o The Hunger Site (THS) não é uma organização sem fins lucrativos [THS | Sidebar | FAQ]
* o THS foi comprado (e por isso vendido com proveito de alguém) um par de vezes [ler esta entrevista]
* a ligação com o World Food Programme terminou em 2001 [ver lista de doadores] mas não consegui encontrar em lado nenhum as razões desse corte.
* Actualmente o THS distribui através de duas instituições a Mercy Corps e a America's Second Harvest. Esta última combate a fome nos Estados Unidos da América. Os fundos para a primeira estão concentrados exclusivamente na ajuda às vítimas do Tsunami [mais uma vez a mesma entrevista]

Já o conceito básico deste site me faz confusão. Umas quantas empresas estão dispostas a pagar uma quantidade indeterminada de dinheiro de acordo com uma quantidade de cliques que uma website privada recebe. É bizarro enquanto acto de caridade (solidariedade); é preverso enquanto acto de publicidade.

Mas o facto de ser propriedade de uma empresa comercial, significa que a qualquer momento pode ser vendida ou as suas políticas podem ser mudadas (e, por exemplo, a contribuição não ser distribuída a 100%).

O site não explica nenhuma das mudanças anteriores (de propriedade e de políticas de distribuição), nem sequer dá a conhecer o autor da ideia inicial [THS | sidebar | About us].

A maior parte das buscas a respeito da THS ainda atribuem como destinatário a World Food Programme. No entanto a mudança das políticas de distribuição, faz com que parte das contribuições seja usada dentro dos Estados Unidos (quantas pessoas se terão apercebido disso?) e que os fundos possam ser desviados para causas particulares e/ou populares (Tsunami) quando o objectivo inicial era a fome mundial.

A verdade é que mesmo assim poderemos gratuitamente ajudar alguém, nos Estados Unidos ou nas regiões afectadas pelo Tsunami, o que em si mesmo não me parece mal. E quando alguém vende colares chilenos ou tibetanos, revertendo parte do lucro para acabar com a fome (nos EUA e na área do Tsunami), em si mesmo também não me parece mal. Apesar de o facto de parecer que ainda estamos no The Hunger Site sem estar é um truque duvidoso. Se empresas utilizam (parte d')o dinheiro do seu orçamento de publicidade para auto-promoção mundial enquanto contribuem para acabar com a fome (nos EUA e na área do Tsunami). Apesar de perverso, tem o seu lado positivo. É o unir estes três aspectos e a maleabilidade da organização das suas relações que é um pouco perturbante.

Nem sei bem para que me dei ao trabalho de escrever esta mensagem. Este cartoon descreve a situação com alguma precisão.

Nota Anti-Spam: Por favor, não utilizar este texto para iniciar uma cadeia de cartas contra o The Hunger Site. Se alguém sentir necessidade de divulgar o conteúdo deste texto, faça-o apenas junto de pessoas que tenham manifesto interesse no The Hunger Site, incluindo todos os links e esta nota Anti-Spam.

timshel | Um mail a propósito do Hunger Site:

Recebi ontem um mail do blogue aqui quem fala sou eu que contém mais elementos pertinentes para avaliar a credibilidade desse site. Após examinar todos os elementos apresentados cheguei à conclusão que no balanço dos prós e dos contras eu continuaria a fazer exactamente como antes ( a clicar aqui todos os dias). Todavia, afim de que quem lê este blogue tenha o maior número de elementos que lhe permita chegar a uma decisão em consciência deixo aqui, de seguida, o referido mail. Agradeço este e todos os futuros contributos que me que me permitam esclarecer o mais possível sobre a credibilidade e a bondade deste site.
Ler texto completo:

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quarta-feira, março 30, 2005
Parece uma estória do Inimigo Público mas não é.

Whasington Post | Pharmacists' Rights at Front Of New Debate (washingtonpost.com):

Some pharmacists across the country are refusing to fill prescriptions for birth control and morning-after pills, saying that dispensing the medications violates their personal moral or religious beliefs.

NewDonkey.com | And Speaking of Rx Drugs....:

Where will it end? Birth control aside, do pharmacists have the "right" to second-guess doctors about the appropriateness of a particular medication for a particular patient? And will pharmacy cashiers be empowered to deny candy bars to the obviously obese; toy guns to the parents of toddlers; and cigarettes to everybody?

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sexta-feira, março 25, 2005
segunda-feira, março 14, 2005
Nas recomendadas que agora se iniciaram existem várias leituras interessantes na polémica sobre as mulheres no governo. O mais interessante e importante até agora talvez tenha sido este artigo:

Público | O contra-governo provocatório:

Este governo feminino e provocatório destina-se apenas a contestar alguns lugares comuns correntes ou desculpas de última hora. Afinal, entre socialistas, semi-independentes e independentes próximos do PS, não é tarefa difícil elaborar um elenco de mulheres em que a competência, a qualidade dos currículos e até, na maior parte dos casos, a experiência política nada ficasse a dever aos actuais ministros.

E eu concordo mais com isto:

Barnabé | O governo das mulheres:

A lista pode ser atacada através dos silogismos que listei acima. Mas nenhum observador de boa-fé deixará de concordar que, baralhando e tornando a dar, o resultado não é pior do que o governo que temos agora

do que com isto – ou não se sabe o significado de “provocatório” ou já se está com o olho na remodelação:

Causa Nossa | O contra-governo provocatório:

Mas o «contra-governo provocatório» enferma de vício tão grande ou ainda maior [...]É que um governo só de mulheres seria tão mau - tão desequilibrado - como um governo só de homens, ou nas mãos esmagadoramente de homens.

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sexta-feira, março 11, 2005
É talvez a entrevista mais linkada dos últimos tempos. Não resisto a transcrever três pontos que me fizeram sorrir. A ler na íntegra.

Público | Não precisamos de inventar outra estratégia de Lisboa:

O primeiro erro da "agenda de Lisboa" foi ter adoptado uma perspectiva muito estatista, diz Manuel Castells, um dos mais importantes teóricos da Sociedade de Informação. Mas não é preciso inventar outra estratégia, outra grande visão, que é o que gostam de fazer os europeus
[...]
Quanto ao modelo meridional, se existe, não o encontrámos, a não ser que se queira transformar a incapacidade em modelo e se decida que vamos fazer parques temáticos para os turistas chineses, japoneses e americanos.
[...]
A capacidade de absorver essa mão-de-obra qualificada depende da existência de postos de trabalho tecnologicamente avançados. Eles trabalham na construção porque é isso que se faz em Portugal. Não são os imigrantes que têm baixas qualificações, é o país que tem baixas qualificações.

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