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segunda-feira, março 15, 2004
Gosto de pensar que o PP teria perdido mesmo sem os ataques da semana passada. Talvez seja uma visão parcial – é a minha – e admito que talvez não seja verdade.

Talvez seja verdade que o PP ia ganhar as eleições.
No entanto discordo frontalmente que os espanhóis tenham cedido ao terrorismo ao votar massivamente. E discordo que os espanhóis tenham cedido ao terrorismo ao votar maioritariamente no PSOE.

O resultado nas urnas não foi uma cedência e teve a meu ver duas razões que têm a ver com a capacidade de recordar os factos marcantes de uma legislatura.
A primeira razão é que a guerra no Iraque foi um tema fracturante em Espanha. Um atentado aqui tão perto avivou a memória acerca das razões de quem se opôs à guerra. Uma guerra ilegal suportada pelo governo sem sequer levar o tema às cortes.
A segunda razão foi mais decisiva. O PP mostrou-se como é. Mentiu, tentou encapotar as suas acções e controlar a forma com as notícias saíam.
Quando os media internacionais já anunciavam a Al Qaeda como potencial autora dos atentados, os media espanhóis e o governo insistiam na tese da ETA. Só no Sábado à noite o governo mencionou que algumas pistas que apontavam na direcção dos fundamentalistas islâmicos, insistindo ainda assim na possibilidade de ETA.
Esta falta de frontalidade avivou a memória acerca de um governo tentou sempre manipular o modo como a população é informada das situações cruciais do país. Reavivou a memória acerca de como o governo espanhol lidou com a catástrofe do Prestige e como minimizou as suas consequências. Foi na altura do Prestige que muitos espanhóis se habituaram a seguir os media internacionais para saber o que ser passava no seu próprio país.

Se o PP ia ganhar as eleições, os atentados poderiam até ter dado razão à actuação do governo em relação à “guerra ao terrorismo”.
Se o PP ia ganhar as eleições, foi a sua actuação infame num momento crucial para o país que fez com que as perdessem.

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