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sexta-feira, fevereiro 18, 2005
Anda por aí muita gente a desancar na estratégia de crescimento do BE. Que quer consolidar a sua base e por isso recusa em qualquer hipótese assumir um papel no governo. Que defende ideias radicais que custarão milhões ao país se não o condenarem por várias gerações. Que só lhe interessam as suas ideias radicais das quais não vão ceder e assim gerarão a instabilidade que reconduzirá o PSD e a direita ao poder.

Não quero ser o grande defensor do BE mas a mim tudo isto parece uma carrada de patetices. Se não vejamos:
Que quer consolidar a sua base e por isso recusa em qualquer hipótese assumir um papel no governo.
A consolidação da sua base através da actuação na Assembleia da República parece-me um objectivo legítimo de um partido em crescimento. A recusa em assumir um papel governativo (se bem que não concorde totalmente com ela) poder-se-ia dizer que até é refrescante, mas é compreensível dado o discurso do PS em relação a esse cenário. It takes two to tango. No entanto, a participação no governo não é a única maneira de participar na governação. Estar na oposição não é necessariamente estar contra o governo, a participação activa e construtiva no acto legislativo é igualmente importante (e uma a que o BE nos habituou). Além disso, a confirmarem-se as sondagens de ontem, temos a oportunidade única de ter um parlamento 60% de esquerda.

Que defende ideias radicais que custarão milhões ao país se não o condenarem por várias gerações. É verdade que o BE utilizou os temas ditos fracturantes para catalizar o seu crescimento. Mas estes temas só são fracturantes porque fracturam os partidos tradicionais. A descriminalização das drogas leves e a despenalização do aborto não são batalhas do BE. A educação gratuita e o casamento de homossexuais não são batalhas do BE. São temas que são defendidos por grande parte dos eleitores progressistas e que os partidos tradicionais evitam na sua estratégia de cativar os eleitores mais conservadores. As reservas em relação a esta constituição europeia são válidas para muitos eleitores. É a intransigência (outra palavra muito utilizada a respeito do BE) dos partidos tradicionais que é radical e ridícula. Ou estão a favor desta, ou estão contra a União Europeia, é um slogan inadmissível em democracia. O défice democrático desta constituição é gritante e deveria preocupar-nos a todos. Mas há quem pense que se a constituição não avança a União Europeia acaba, que é melhor começar com uma qualquer e melhorá-la à medida que a formos utilizando. Uma constituição, a primeira constituição tem que ser o melhor esforço do momento, tem responder às exigências de hoje e estabelecer os princípios de amanhã. Uma constituição não se afina, ajusta-se conforme os tempos, mas não se afina.

Que só lhe interessam as suas ideias radicais das quais não vão ceder e assim gerarão a instabilidade que reconduzirá o PSD e a direita ao poder. Ora bem pôr o ónus da instabilidade no BE é das maiores falácias que se podem imaginar.
Pessoalmente, espero que em caso de maioria relativa, e se um governo do PS depender do BE, esses dois partidos possam chegar a um acordo. O BE tem que se aperceber que não será alternativa de governo tão cedo, se alguma vez lá chegar. Por isso, não pode ser intransigente nas suas propostas porque um governo do PS é o mais favorável interlocutor que irá encontrar no poder nos próximos tempos. O PS, por seu lado, não pode exigir ao BE contrapartidas que vão contra os princípios básicos que levaram à eleição dos seus deputados. Por muito que ambos se contradigam, tenho a certeza que há extensos campos onde os objectivos e os meios estão mais próximos do que aquilo que gostariam de admitir. Se isto não acontecer, nem uns nem outros merecem o nosso voto.
Por outro lado, é preciso não esquecer que não se pode pôr nas costas dos 7% que o BE poderá vir a representar a impossibilidade de avançar com as reformas do estado. Se estas não avançarem é porque 51% não chegaram a acordo, não porque 7% não concordaram. E se 51% dos representantes da população não chegarem a acordo é por as reformas não estarem bem fundamentadas ou por fracasso do diálogo. Em qualquer dos casos é a democracia em acção e é a única vantagem que um regime democrático tem sobre todos os outros.
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