quinta-feira, fevereiro 17, 2005
Com implosão das possibilidades do PSD chegar ao governo, o estratégia do medo concentrou-se nos cenários apocalípticos de uma eventual maioria relativa.Dicionário da Língua Portuguesa
instabilidade - (Do lat. instabilitáte-, "mobilidade")
© Porto Editora, Lda. - 2001
A maioria absoluta como garante de estabilidade e desta com garante do sucesso do governo é uma falácia destinada a alimentar estratégia do medo (agora que parece ridículo acenar com o medo de uma vitória do PSD). O papel da instabilidade é o do papão nas estórias para crianças. Alimenta-se dos medos mais elementares da natureza humana.
Mas, na verdade, as maiorias relativas e a instabilidade (ou a ingovernabilidade) não são inseparáveis. Os Governos do PS são um exemplo mas há outros. Assim de repente, lembro-me da Holanda onde uma maioria absoluta é praticamente impossível. O reino holandês, no entanto, não é famoso pela sua instabilidade política e económica. Também, se bem me lembro, durante o seu segundo mandato Clinton tinha uma maioria (absoluta) republicana no congresso! Esse foi o mandato que, apesar da instabilidade decorrente do processo de destituição (provocado precisamente pela maioria absoluta), terminou com um surplus nas contas do estado.
Um governo de maioria relativa é obrigado a negociar e não há nenhum mal nisso. É a democracia. Cinquenta e tal porcento votaram na oposição, há que aceitá-lo e criar plataformas de acordo.
Dar uma maioria absoluta a um partido com medo da abstracta instabilidade, é admitir que esse partido não terá capacidade para dialogar com a oposição (que representa a maioria dos votantes). E se um partido sem capacidade para dialogar por necessidade, dificilmente dialogará de livre vontade mal se veja com a maioria absoluta. Será um pouco como dar a chave de casa ao ladrão na esperança de ter uma palavra a dizer naquilo que ele vai levar.
A instabilidade não é necessariamente desastrosa. É até uma oportunidade, um momento de consideração, decisão e finalmente acção. Um de estes dias encontrei por acaso um pequeno texto que escrevi há uns anos para uma amiga querida.
A posição mais estável é a paradaLer texto completo:
O simples acto de andar só é possível se existir uma instabilidade que nos faça agir pondo um pé à frente do outro. Às vezes cai-se, mas é fácil levantarmo-nos imediatamente e continuar.
Mas se, por medo, não se quer abandonar essa posição estável acaba-se sempre por cair e depois recomeçar a andar é difícil.
Não tenhas medo de andar sempre, e, se possível, dá cambalhotas.
Etiquetas: Democracia, Política Nacional