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terça-feira, abril 19, 2005
Terminados os lutos nacionais e internacionais. Estando o Papa morto e enterrado. Começando a ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) o seu processo eleitoral. É talvez possível pôr a morte de João Paulo II em perspectiva sem levantar grandes ondas de indignação.

A morte do Papa só nos pode entristecer se não olharmos para a vida de João Paulo II. Os que o admiraram deverão olhá-la como uma vida que chega ao fim, mas que foi uma vida cheia, completa. Chegou o momento de partir, se assim se crê, para um lugar melhor. Os que o desprezavam poderão olhar este momento como o fim ansiado de um reino absoluto e conservador. Assim como assim, um momento de esperança mais ou menos contida, mais ou menos geral.
Para um agnóstico, o Papa simboliza pouco mais que o presidente Cubano. É um chefe de um estado cujos habitantes não têm nada a dizer na sua escolha. A escolha é feita por estrangeiros que recai a mais das vezes sobre estrangeiros. Seria uma situação quase caricata se a esfera de influência não fosse tão vasta.

Sendo pouco mais que o príncipe do Mónaco, a um agnóstico a cobertura mediática dada ao seu funeral não é chocante. Diz mais do modo como os meios de comunicação encaram e estabelecem a prioridade das notícias, do que da sua religiosidade ou secularidade. Assim não admira que depois de um dia a cobrir os funerais do Papa, se passe um dia a cobrir o segundo casamento do Príncipe de Gales.

Durante os funerais do Presidente Chinês, entristecer-me-ia se não se mencionasse a sua quota-parte de responsabilidade nos abusos dos direitos humanos, enaltecendo somente a sua participação na abertura à economia de mercado. Igualmente entristece-me ver elevado a quasi-santo uma personagem, que do alto da sua posição privilegiada, bloqueou qualquer concessão no campo do planeamento familiar.

A sua oposição à utilização de qualquer método de contracepção, mesmo por indivíduos infectados pelo HIV, foi tão violenta que provavelmente adiou qualquer cedência neste campo por um ou dois papados.

Segundo os números do ano passado, no dia da morte de João Paulo II terão morrido 7671 pessoas com SIDA, 126 das quais crianças. Durante a hora da sua morte morreram 5 crianças, e no minuto da sua morte 5 pessoas morreram. Entre a sua morte e o seu funeral, mais de 46 mil pessoas perderam a vida, das quais 756 crianças. Todos devido à SIDA.

Talvez João Paulo II não pudesse ter evitado estes números sozinho, tal como não pôde, sozinho, acabar com os regimes comunistas do leste da Europa, mas certamente poderia ter dado uma grande ajuda.
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