<$BlogRSDURL$>
quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Manoel de Oliveira Aniki-bóbó :

«
Eduardo:Aniki-bébé / Aniki-bóbó / Passarinho Tótó / Berimbau, Cavaquinho / Salomão, Sacristão / Tu és Polícia, Tu és Ladrão
Carlitos: Mas eu não quero ser ladrão!
O resto da canalha, gozando-o: Tu és ladrão, tu és ladrão!»

parte daqui parte de memória

(se não é assim podia muito bem ter sido)

O cartoon de um muçulmano com um turbante em forma de bomba e a Shahadah nele inscrita é no mínimo preconceituoso, o QeP explica bem porquê, o 2DdC mostra-o relacionado com outros cartoons, que levaram a desastres maiores. Conheço muitas pessoas verdadeiramente preconceituosas e até me dou bem com algumas. Não tenho preconceitos contra essa gente. A questão será saber quando é que o preconceito passa a insulto, e o insulto passa a incitação ao ódio.

Creio que aos olhos ocidentais, a maior parte dos 12 cartoons são suficientemente inócuos para que a carga preconceituosa tivesse passado desapercebida inicialmente. Quero até acreditar que os cartoonistas tenham utilizado o estereótipo [os estereótipos são muitas vezes generalizações baseadas em preconceitos] para atingir um efeito cómico, sem intenção de ofender. A liberdade de expressão dá-lhes esse direito inalienável. Um até distorceu o tema atacando o próprio jornal.

Entretanto, é evidente que muitas pessoas se ofenderam... em Setembro de 2005. E, assim como o jornal tem o direito de publicar, o público tem o direito de se ofender, de protestar e o jornal o direito de se desculpar. Tudo isto cabe dentro da liberdade de expressão, sem dramas. Os ofendidos tiveram também o direito de apresentar queixa. Até aqui, além de reacções emocionais, em Outubro, contra a publicação dos cartoons, a coisa não foi dramática.

De repente, jornais europeus começaram a republicar os cartoons, com o intuito de demonstrar a solidariedade com o jornal dinamarquês e defender a liberdade de expressão. A reacção intensa nos países muçulmanos, fez com que mais jornais se juntassem aquela “defesa dos valores democráticos”, o que provocou mais violência (não pela defesa dos valores democráticos, mas pela insistência na ofensa). Uma corrida para o fundo que lembra a infantilidade das crianças quando descobrem uma fraqueza noutra criança – matracam a fraqueza até, como avisam os pais, acabar mal.

Mas a infantilidade dos jornais europeus é além do mais uma infantilidade cobarde. A sua valorosa defesa dos nossos valores e demonstração de solidariedade pelo jornal dinamarquês só começou no dia seguinte a se ter encerrado a investigação criminal.



Ler também Eduardo Pitta

Etiquetas: