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terça-feira, março 30, 2004
Segundo o pasquim da OA, o CSCAE e a OA consideraram “pertinente a elaboração de um documento comum” intitulado “a arquitectura não é um serviço”. A citada tirada do “Arq. Manuel Vicente, no seu estilo pessoal, reivindicando o papel dos arquitectos como produtores sociais de cultura” ajuda pouco. Não sei se se destinava a responder a questão imediata: Se não é um serviço, então o que é? A verdade é que não responde.

Ainda a semana passada tive que explicar longamente a um cliente que a arquitectura é um serviço. De tal maneira que alterações significativas ao programa e ao orçamento impõem uma revisão do anteprojecto. Esta revisão não está incluída na tarifa do anteprojecto e trata-se de um serviço extra. E que não! a revisão não se faz só porque o arquitecto quer mesmo construir o projecto. Quem quer construir, e finalmente vai usufruir dos lucros do empreendimento, é o cliente. O arquitecto é apenas um prestador de serviços. E se há um, dois ou três anteprojectos para fazer, haverá um, dois ou três anteprojectos para pagar. Dependendo do impacto das alterações no projecto, a segunda e terceira vez serão mais baratas, mas devem ser definitivamente pagas.

Potencialmente, qualquer profissão é produtora social de cultura. Este carácter não é contraditório à prestação de serviços de arquitectura. Um dos grandes desafios da profissão é explicar ao cliente quais são os serviços que recebem quando contratam um arquitecto, ultrapassar a famosa ideia que o arquitecto só faz uns bonecos e já está.

Por isso acho a elaboração de tal documento impertinente. A negação da arquitectura enquanto serviço é tirar o tapete de debaixo dos pés dos arquitectos. É tanto mais grave como é uma associação profissional a proclamá-lo. Uma não duas.

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segunda-feira, março 29, 2004
Segundo o DN o PS encontrou a solução mágica para o combate à abstenção e o governo parece concordar. Estende-se o horário de voto até às dez da noite e já está. Os portugueses que nos últimos anos têm falhado as eleições por constantemente chegarem atrasados às urnas podem agora jantar descansados e, enquanto vão passear o cão, votar. Esta brilhante estratégia só falha por ter sido anunciada a todo o país nos títulos dos jornais. Era essencial ter-se mantido o segredo. É que agora vai tudo apontar para as dez menos um quarto e chegar às dez e dez!

Se o PS ou qualquer outro partido político quer combater a abstenção há um par coisas que pode ir pensando em propor em relação à lei eleitoral.
Uma é a extensão do voto por correio a toda a população. Actualmente apenas os imigrantes, diplomatas e membros das forças armadas em missão fora do território nacional podem votar por correspondência. Em Espanha por exemplo, qualquer pessoa pode utilizar esse método umas semanas antes das eleições e ir calmamente à sua vidinha, não tendo de planear as suas férias, fins-de-semana prolongados ou viagens de negócios de acordo com as eleições nacionais. Também aqueles temporariamente a estudar ou a trabalhar no estrangeiro poderiam assim participar no acto eleitoral.
A outra, mais profunda, é alterar o método de eleição. Não defendo os famosos círculos uninominais que supostamente aproximam os eleitos dos eleitores. Este é um método maioritário que exclui mais de metade da população de representação que merece e favorece o bipartidarismo. Na Holanda existe um método misto, que confesso não sei bem como funciona... mas é mais ou menos como isto. Cada partido tem uma lista (não sei se por círculo ou nacional). E cada nome tem um número. Vota-se nos indivíduos e vota-se na lista. Acho que parte dos deputados são atribuídos proporcionalmente, parte nominalmente. Mas talvez fosse interessante serem os eleitores a ordenarem as listas. Os “cabeças-de-lista” escolhidos pelos eleitores.

Mas evidentemente o combate à abstenção passa muito mais do que mudanças de lei.

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sábado, março 20, 2004
Há um ano começou a Guerra do Golfo ii.

A ameaça iminente do regime de Saddam provou ser uma falácia útil para justificar a aplicação do conceito de Guerra Preventiva.

As ligações da Al Qaeda ao regime de Saddam, apesar de constantemente repetidas pela administração Bush, são inexistentes. Esta acção não faz por isso parte da Guerra ao Terrorismo.

As maiores e piores atrocidades do regime de Saddam em relação ao seu próprio povo ocorreram há vários anos, ainda antes da Guerra do Golfo i. A classificação de Guerra Humanitária implica que o objectivo seja terminar atrocidades em curso.

Os conceitos de Guerra Preventiva, Guerra ao Terrorismo e Guerra Humanitária têm já um carácter duvidoso que talvez mereça um novo post. Mas nem com estes conceitos se consegue justificar esta acção no Iraque.

O que nos distingue dos ditadores e dos terroristas deve ser o nosso apego às leis internacionais e às liberdades individuais. Empenhar qualquer destas características é ceder a quem tem uma visão do mundo que quer impor aos outros pela força...

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segunda-feira, março 15, 2004
Gosto de pensar que o PP teria perdido mesmo sem os ataques da semana passada. Talvez seja uma visão parcial – é a minha – e admito que talvez não seja verdade.

Talvez seja verdade que o PP ia ganhar as eleições.
No entanto discordo frontalmente que os espanhóis tenham cedido ao terrorismo ao votar massivamente. E discordo que os espanhóis tenham cedido ao terrorismo ao votar maioritariamente no PSOE.

O resultado nas urnas não foi uma cedência e teve a meu ver duas razões que têm a ver com a capacidade de recordar os factos marcantes de uma legislatura.
A primeira razão é que a guerra no Iraque foi um tema fracturante em Espanha. Um atentado aqui tão perto avivou a memória acerca das razões de quem se opôs à guerra. Uma guerra ilegal suportada pelo governo sem sequer levar o tema às cortes.
A segunda razão foi mais decisiva. O PP mostrou-se como é. Mentiu, tentou encapotar as suas acções e controlar a forma com as notícias saíam.
Quando os media internacionais já anunciavam a Al Qaeda como potencial autora dos atentados, os media espanhóis e o governo insistiam na tese da ETA. Só no Sábado à noite o governo mencionou que algumas pistas que apontavam na direcção dos fundamentalistas islâmicos, insistindo ainda assim na possibilidade de ETA.
Esta falta de frontalidade avivou a memória acerca de um governo tentou sempre manipular o modo como a população é informada das situações cruciais do país. Reavivou a memória acerca de como o governo espanhol lidou com a catástrofe do Prestige e como minimizou as suas consequências. Foi na altura do Prestige que muitos espanhóis se habituaram a seguir os media internacionais para saber o que ser passava no seu próprio país.

Se o PP ia ganhar as eleições, os atentados poderiam até ter dado razão à actuação do governo em relação à “guerra ao terrorismo”.
Se o PP ia ganhar as eleições, foi a sua actuação infame num momento crucial para o país que fez com que as perdessem.

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segunda-feira, março 15, 2004
Através de uma amiga em Espanha, um cartaz nas manifestações de 12 de Março.

Aznar, en Irak Atocha acontece cada día!

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domingo, março 14, 2004
Manter uma sociedade sob a ameaça do medo é um dos mais eficazes métodos de controlar a acção dessa sociedade. Esta forma de controlo é utilizada tanto por grupos que lutam por poder, como por aqueles que detém já o poder. A única forma de resistir é não nos deixarmos controlar pelo medo.
Esta semana, mais uma vez, gente que sentimos perto de nós foi cobardemente atacada. Chocou-nos, tocou-nos por essa proximidade. Podíamos ter sido nós, podiam ter sido amigos nossos. A verdade é que todos os meses israelitas ou palestinianos (e não só) são mortos em ataques igualmente cobardes perpetrados por quem quer poder e por quem o quer manter. É necessário controlar o medo, não entrar na espiral de violência e irracionalidade.
Esta semana cinco Britânicos, que estiveram detidos mais de dois anos, foram libertados poucas horas depois de chegarem ao Reino Unido. Estiveram detidos sem serem acusados formalmente de nada. Outras seiscentas pessoas de outros países continuam detidas. A verdade é que não se sabe bem de onde ou quem são. Não se trata de saber se as condições em que estão detidos são boas ou más. Trata-se de não baixarmos os nossos padrões por nos sentirmos ameaçados.

A revolta que sentimos pelos ataques a que somos sujeitos é legítima e leva-nos a reclamar algum tipo de acção. A revolta que outros sentem pelos ataques a que estão sujeitos é legítima e leva-os a reclamar algum tipo de acção.
Que tipo de acção? Com certeza nunca retaliações cobardes e ilegais. Ceder ao medo, aceitar violações das nossas liberdades, é dar a vitória aos terroristas.

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segunda-feira, março 08, 2004
Torres parecem ser em todo o lado algo que toca o íntimo das pessoas.
Lembro-me de desenvolver um trabalho de escola onde apontava para a possibilidade da realização de torres. Durante uma avaliação uma colega, de lágrimas nos olhos, dizia-me que não suportava a visão da sua linda cidade cheia de torres. Não exagero. Apesar de ser apenas um projecto de escola, apesar de as torres serem só uma possibilidade ilustrativa de um plano urbano, as lágrimas estavam lá, que eu vi.

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segunda-feira, março 01, 2004
Na sequência do post de ontem acerca de quanto um licenciado tem que paga para a possibilidade de se candidatar ao título profissional, surge Aqui a primeira sondagem. Quanto ganhas e como o ganhas?
Quanto ganhas em média por mês, antes das deduções fiscais e outras.
Como o ganhas maioritariamente? Estágio, contrato, a recibos [independente por conta de outrem], ou com trabalho próprio [independente], ou ainda investigação/educação.

Seria interessante saber quantos meses tem um arquitecto que trabalhar para poder trabalhar.

P.S. - Ontem tinha posto como respostas também o tipo de relação laboral. Reparei depois que não resultava bem duas perguntas no mesmo inquérito. Fica para outra vez.
Uma desculpa aos dois estagiários que responderam.

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